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terça-feira, 4 de setembro de 2012

AS ÁGUAS PASSAM

MEDITAÇÃO SOBRE  BACANGA



As águas passam

É lua e as casas aparecem.

Sou eu. Narciso que se olha

E fenece.

Tudo é sombra, sombra e nada,

água e silêncio nas folhas e vales

rompidos pelo Bacanga em sulcos

de madrugada.

Faixa de vento na montanha a encher e vazar:

címbalos onde o tédio geme.

É o gigante do não esquecer e as vozes do mangue.

Sangue correndo das imagens mordidas

pelos dentes estranguladores da noite.


Narciso se olha

Satanicamente o brilho dos olhares

buscam o que não existe mais.

Ele vivia além e tinha fome, mas pensava.

Comeu os pensamentos devorando os dias

o nome e a noite.



Doce rio que vem e bóia

na enseada.

Águas barrentas, sujas,

Liberdade que morreu

e se afoga

no Mar.


Medito sobre mim que já sou morto:

as canções fúnebres que me pesam

como pedras no vazio do

lembrar.

- Barquinho de vela

que vai sobre o mar.

Boneca amarela

que me vem roubar.

Meus olhos fenecem e o presságio dorme

no espelho das águas que

escorrem. 
José Sarney
Poeta Maranhense
(A Canção Inicial/1954)


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