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quinta-feira, 11 de abril de 2013

SUPERAR A SI MESMO

ARTE DE SER
Quando acaba uma partida de tênis,
 os dois jogadores mal se falam. 
Trocam aperto de mão ainda chispando
 de ódio. Já no boxe, após socarem-se,
 inchados, sangrastes abraçam-se 
efusivos. Há afeto no abraço, 
reconhecimento - quase sempre -
do talento e coragem alheios. 

Entre dois homens que se enfrentam 
fisicamente, após o máximo de tensão
 e raiva, surge admiração, o respeito, 
brota a amizade. O tênis é ao mesmo tempo
o mais violento e o mais civilizado 
dos desportos. É tão violento, que se 
transformou no mais distinto e elegante. 

São 2 horas de uma pancadaria 
como não há outra em qualquer desporto.
Dois seres humanos, com um tacape 
nas mãos, esbordoam uma bola 
com energia potente, por horas. 
É jogo silencioso. Olhar de lince, 
ação de espreita, jogo limpo, cada qual 
em seu território, nenhuma promiscuidade 
física, os debatedores olham-se ao longe, 
não se misturam, não se roçam, não sentem 
o cheiro do outro, tudo, sempre, civilizado,
 anti-séptico, vestidos de branco, 
toalha para o suor. 

E, no entanto, odeiam-se talvez porque
 jamais consegue transformar a raiva
em atrito real, confronto entre forças 
físicas em choque. No boxe, o oposto.
 Luta dramática, agônica, a resistência 
em seu limite, abraços, baba suor, 
sangue, cuspe, cheiros, a um passo 
da humilhação pela queda, a derrota 
patente, o cansaço, a superação, 
força, técnica e resistência misturadas,
 exaustão, estresse e o enorme orgulho, 
ao final, de haver logrado superar não
o adversário, mas, 
sobretudo a si mesmo.
 
(Artur da Távola)