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domingo, 24 de junho de 2012

A ROSA

Era final de inverno...



Mais um ano havia passado e não se chegara 

a nenhuma conclusão.

Os partidários das diversas facções, dia após dia, 

perdiam-se em longas e intermináveis discussões

 sobre esta ou aquela candidata, 

sem chegarem a um consenso.
Decantava-se a beleza da papoula, as qualidades das alfazemas, o perfume dos cravos, as virtudes 
de pureza e humildade de lírios e violetas.

Tudo em vão...
Num canto despretensioso do mundo, 
onde as espécies vegetais cresciam silenciosamente, um pequeno arbusto travava sua luta diária 
pela sobrevivência, alheio a toda sorte de discussões.
Conformada com sua forma tosca, retorcida, 
prenhe de espinhos pontiagudos e consciente 
de que nunca alcançaria a beleza de um dente-de-leão, acostumara-se a ser desprezado e humilhado, 
sem, no entanto, deixar de prestar atenção 
nas pequenas criaturas que dependiam 
de sua existência para sobreviver.
A elas dedicava a sua vida, emprestando 
a segurança de seu tronco e ramos para 
abrigar insetos das chuvas e ventanias.



Era feliz, pois, se não tinha a beleza, tinha a utilidade, 

e isso lhe bastava.
Naquela manhã fria de final de inverno, ainda não totalmente desperta da noite, a plantinha rude viu despregar do céu uma linda estrela cor de prata.
Sorrindo, acompanhou-lhe a trajetória em arco perfeito pelo céu escuro, descendo, descendo... 
Em direção à floresta ainda adormecida.
Era tão suave e linda aquela forma, que, 
instintivamente, todos na floresta, árvores, arbustos, pássaros e flores, acordados pela luz repentina, 
curvavam-se para vê-la passar.
A estrela flutuou entre sorrisos, agradecendo 
a simpatia da floresta, até chegar perto do 
arbusto cheio de espinhos.

Aproximou-se lentamente da plantinha e falou-lhe docemente.
Não te inscrevestes na eleição da rainha 
das flores, por isso vim pessoalmente buscar-te...

Mas, senhora... gagejou a planta, ...eu?? 

Como posso aspirar a ser rainha 

de qualquer coisa... não vês o quanto sou feia!!
O Senhor da vida ordenou-me que viesse buscá-la...

Se este é o seu desejo...aqui me tens, senhora...

E partiram em um rastro de luz, 

na direção do conselho das flores.
As demais candidatas riram-se da 
pretensiosa intenção daquele feio arbusto.

A platéia silenciou quando entrou no ambiente

 a primavera, anunciada pelo som de mil clarins.
O arbusto, espantado, reconheceu 
a estrela que a trouxera até ali.

Então, senhores conselheiros - questionou a 

primavera- o Senhor da vida deseja saber se já encontraram a legítima representante de Seu Reino?
Não, senhora. Estávamos para decidir-nos, 
quando fomos interrompidos pela vaidade 
dessa planta sem qualidades que aí está. 
Veja! Quanta ousadia...

A primavera voltou-se para 
a plantinha que chorava de vergonha e humilhação e perguntou:

O que mais desejas nesta vida? 
E a planta respondeu entre lágrimas...
Amar e ser amada...

A primavera, então, tocou os galhos espinhosos e, logo, botões surgiram dos galhos semi-nus, abrindo-se em mil pétalas sedosas, de perfume inesquecível...

Qual é o teu nome? Perguntaram todos.

Eu sou a rosa...
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Quando o amor tocar os espinheiros do mundo, as rosas brotarão em cada alma. 
Tal é a lei de amor, como ensinou Jesus...

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