O AMOR É MAIS FORTE
Os amantes de hoje preferem a droga
mais leve, o tabaco mais light ou
o café descafeinado.
Já ninguém quer ficar pedrado
de amor ou sofrer de uma overdose de paixão.
As emoções fortes são fracas
e as próprias fraquezas
revelam-se mais fortes.
Os amantes, esses, são igualmente
namorados da monotonia e amigos
íntimos da disciplina.
O que está fora de controlo causa-lhes
confusão, e afeta-lhes
uma certa zona do cérebro,
mas quase nunca lhes toca o coração.
O amor devia ser sonhado e devia
fazê-los voar; em vez disso
é planeado, e quanto muito, fá-los pensar.
Sobre o amor não se tem controlo.
É um sentimento que nos domina,
que nos sufoca e que nos mata.
Depois dá-nos um pouco vida.
No amor queremos viver, mas pouco nos
importa morrer e estamos sempre
dispostos a ir mais além.
Deixamo-nos cair em tentação,
e não nos livramos do mal,
embora procuremos o bem.
No amor também se tem fé,
mas não se conhecem orações:
amamos porque cremos,
porque desejamos e porque sabemos
que o amor existe.
Amamos sem saber se somos amados,
e por isso podemos acabar desolados,
isolados e deprimidos.
Que se lixe! O amor não é justo,
não é perfeito; no amor não se declaram
sentenças nem se proferem comunicados.
O amor prefere ser imprevisível,
cheio de riscos e de fogo cruzado.
No amor os braços não se cruzam,
as palavras não se gastam e os
gestos servem para o demonstrar.
Amar também é lutar, e enfrentar
monstros fabulosos com cabeça de leão,
corpo de cabra e cauda de dragão.
É uma ilusão, um sonho, um absurdo
e uma fantasia. O amor não se entende,
não se interpreta, não se discerne
nem se traduz.
Quem ama acredita, mas não sabe
bem porquê, não sabe bem o quê,
nem percebe bem como.
Rogério Fernandes
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