Vai…
Para sonhar o que poucos ousaram sonhar.
Para realizar aquilo que já te disseram
que não podia ser feito.
Para alcançar a estrela inalcançável.
Essa será a tua tarefa: alcançar essa estrela.
Sem quereres saber quão longe ela se encontra;
nem de quanta esperança necessitarás;
nem se poderás ser maior do que o teu medo.
Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.
Para carregar sobre os ombros o peso do mundo.
Para lutar pelo bem sem descanso e sem cansaço.
Para enxugar todas as lágrimas ou para lhes
dar um sentido luminoso.
Levarás a tua juventude a lugares onde se
pode morrer, porque precisam lá de ti.
Pisarás terrenos que muitos valentes não
se atreveriam a pisar.
Partirás para longe, talvez sem saíres do
mesmo lugar.
Para amar com pureza e castidade.
Para devolver à palavra “amigo” o seu sabor
a vento e rocha.
Para ter muitos filhos nascidos também
do teu corpo e – ou – muitos mais nascidos
apenas do teu coração.
Para dar de novo todo o valor às palavras
dos homens.
Para descobrir os caminhos que há no
ventre da noite.
Para vencer o medo.
Não medirás as tuas forças.
O anjo do bem te levará consigo,
sem permitir que os teus pés se magoem
nas pedras.
Ele, que vigia o sono das crianças e
coloca nos seus olhos uma luz pura que
apetece beijar, é também guerreiro forte.
Verás a tua mão tocar rochedos grandes e
fazer brotar deles água verdadeira.
Olharás para tudo com espanto.
Saberás que, sendo tu nada, és capaz de uma
flor no esterco e de um archote no escuro.
Para sofrer aquilo que não sabias ser
capaz de sofrer.
Para viver daquilo que mata.
Para saber as cores que existem por
dentro do silêncio.
Continuarás quando os teus braços
estiverem fatigados.
Olharás para as tuas cicatrizes sem tristeza.
Tu saberás que um homem pode seguir
em frente apesar de tudo o que dói,
e que só assim é homem.
Para gritar, mesmo calado, os verdadeiros
nomes de tudo.
Para tratar como lixo as bugigangas
que outros acariciam.
Para mostrar que se pode viver de luar
quando se vai por um caminho que é
principalmente de cor e espuma.
Levantarás do chão cada pedra
das ruínas em que transformaram tudo isto.
Uma força que não é tua nos teus braços.
Beijá-las-ás e voltarás a pô-las nos seus lugares.
Para ir mais além.
Para passar cantando perto daqueles
que viveram poucos anos e já envelheceram.
Para puxar por um braço, com carinho,
esses que passam a tarde sentados em
frente de uma cerveja.
Dirás até ao último momento:
“ainda não é suficiente”.
Disposto a ir às portas do abismo
salvar uma flor que resvalava.
Disposto a dar tudo pelo que parece ser nada.
Disposto a ter contigo dores que são
semente de alegrias talvez longe.
Para tocar o intocável.
Para haver em ti um sorriso que
a morte não te possa arrancar.
Para encontrar a luz de cuja existência
sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.
(PAULO GERALDO)
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